Nasci
numa noite chuvosa de quinta feira, no dia 28 de março de 1991,
filho de uma família pobre e de pais analfabetos, aos 7 anos de
idade mudamos para Itiuba povoado do município de Jaguaquara, foi lá
na Escola Frei Franco Zito, onde tive meu primeiro contato com a
leitura e escrita. Acordava às 06h00min da manhã e enfrentava junto
com outras crianças uma jornada de uma hora e meia andando,
sozinhos, confrontando na maioria das vezes animais pelo caminho. Às
7h30min chegávamos exausto na escola, uma construção
desorganizada, sem atrativo nenhum, não possuía muros, mas era
pintada com um azul pesado. Na sala de aula, lá éramos recebidos
pela professora Vera, como eu a amava, sempre disposta a ensinar,
tratava os alunos com paciência e amor. Foi com ela que aprendi a
ler e a escrever, não me recordo nitidamente como fui alfabetizado,
o que me lembro era a silabação. O que segundo MENDONÇA esse era o
método de origem sintética, pois:
Partem
de unidade menor rumo à maior, isto é, apresentam a letra, depois
unindo letras se obtém a sílaba, unindo sílaba compõem-se
palavras, unindo se palavras formam-se sentenças e juntando
sentenças formam-se textos. Há um percurso que caminha da menor
unidade (letra) para a maior (texto).
Não
gostava muito desse método, pois, na grande maioria dos textos
trabalhados pela professora, eram sem sentido, visto que nessa época
morava na zona rural, e ela levava textos descontextualizados, longe
da nossa realidade. Nessa mesma direção, FREIRE (1994) enfatiza:
A
leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra. O ato de ler se
veio dando na sua experiência existencial. Primeiro, a leitura do
mundo do pequeno mundo em que se movia; depois, a leitura da palavra
que nem sempre, ao longo da sua escolarização, foi à leitura da
palavra mundo.
Acredito
que, se ela trouxesse textos e conteúdos do nosso cotidiano, o
processo de alfabetização seria mais eficaz, isso porque, nem
todos os meus colegas conseguiram se alfabetizar com ela.
Através
desse método da silabação, o aprendizado se dá de forma mecânica,
através da repetição, tal método é tipo pelos críticos como
mais cansativo e enfadonho para as crianças, pois é baseado apenas
na repetição e é fora da realidade da criança, que não cria
nada, apenas age sem autonomia. Passávamos a manhã quase toda
somente repetindo/decorando o alfabeto.
O
processo da leitura não foi uma tarefa fácil, isso porque o ato da
leitura é uma atividade de interação, o que segundo Kato (1985) o
mero passar de olhos pelo texto não é leitura. O leitor deve
“entrar” no texto, interagindo com o autor, ele deve ter uma
troca de conhecimentos com o autor. No meu caso essa era a principal
dificuldade, interagir com o texto, apesar disso era um mundo novo,
me encantava ao ler livros que ela levava pra sala.
Estava
alfabetizado, nesse sentido, Naspolini (2010) questiona “O que é
ser alfabetizado?” O que segundo Landsmann (1990) existem três
concepções para definir o que é uma pessoa alfabetizada. A
primeira concepção refere-se ao fato do aluno desempenhar um
conjunto de atividades associadas ao uso prático, à segunda é
quando o aluno vê na utilização da escrita também uma aquisição
do poder político, econômico e mental, terceira é entender que o
essencial para ser alfabetizado é adquirir formas de expressão
contidas nos livros. Nesse sentido, ser analfabeto é aquele que se
adapta ao dia-a-dia, e se expressa obtendo assim status, informações,
conhecimento.
Nessa
mesma direção, o ato de saber ler e escrever me faz sair da
“escuridão”, vindo de uma família pobre, e pais analfabetos, eu
era orgulho da família, isso implica que a leitura é um fator
social, capaz de mudar contextos. A leitura nos fornece um mundo de
sensações diversas. Assim, o ato de ler transforma-se num ato de
questionamento, assim, ao ler os textos eu sempre questionava,
imprima neles a minha opinião, isso ficava evidente quando, a
professora da 4ª série levava textos muito simples de serem lidos,
eu queria algo mais desafiador, isso porque tinha hábito da leitura
reflexiva, o que para FARACO (2012) “é necessário realizar sempre
uma ação reflexiva sobre a própria linguagem, interagindo as
práticas socioverbais e o pensar sobre elas”. Sei que o caminho
para uma boa leitura reflexiva e uma boa formação docente não é
fácil, porém estou no caminho certo.

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