Turma do III Semestre

Turma do III Semestre
Turma do III Semestre

sábado, 1 de novembro de 2014

Meu Processo de Alfabetização


Nasci numa noite chuvosa de quinta feira, no dia 28 de março de 1991, filho de uma família pobre e de pais analfabetos, aos 7 anos de idade mudamos para Itiuba povoado do município de Jaguaquara, foi lá na Escola Frei Franco Zito, onde tive meu primeiro contato com a leitura e escrita. Acordava às 06h00min da manhã e enfrentava junto com outras crianças uma jornada de uma hora e meia andando, sozinhos, confrontando na maioria das vezes animais pelo caminho. Às 7h30min chegávamos exausto na escola, uma construção desorganizada, sem atrativo nenhum, não possuía muros, mas era pintada com um azul pesado. Na sala de aula, lá éramos recebidos pela professora Vera, como eu a amava, sempre disposta a ensinar, tratava os alunos com paciência e amor. Foi com ela que aprendi a ler e a escrever, não me recordo nitidamente como fui alfabetizado, o que me lembro era a silabação. O que segundo MENDONÇA esse era o método de origem sintética, pois:
Partem de unidade menor rumo à maior, isto é, apresentam a letra, depois unindo letras se obtém a sílaba, unindo sílaba compõem-se palavras, unindo se palavras formam-se sentenças e juntando sentenças formam-se textos. Há um percurso que caminha da menor unidade (letra) para a maior (texto).
           Não gostava muito desse método, pois, na grande maioria dos textos trabalhados pela professora, eram sem sentido, visto que nessa época morava na zona rural, e ela levava textos descontextualizados, longe da nossa realidade. Nessa mesma direção, FREIRE (1994) enfatiza:
A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra. O ato de ler se veio dando na sua experiência existencial. Primeiro, a leitura do mundo do pequeno mundo em que se movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo da sua escolarização, foi à leitura da palavra mundo.
Acredito que, se ela trouxesse textos e conteúdos do nosso cotidiano, o processo de alfabetização seria mais eficaz, isso porque, nem todos os meus colegas conseguiram se alfabetizar com ela.
Através desse método da silabação, o aprendizado se dá de forma mecânica, através da repetição, tal método é tipo pelos críticos como mais cansativo e enfadonho para as crianças, pois é baseado apenas na repetição e é fora da realidade da criança, que não cria nada, apenas age sem autonomia. Passávamos a manhã quase toda somente repetindo/decorando o alfabeto.
O processo da leitura não foi uma tarefa fácil, isso porque o ato da leitura é uma atividade de interação, o que segundo Kato (1985) o mero passar de olhos pelo texto não é leitura. O leitor deve “entrar” no texto, interagindo com o autor, ele deve ter uma troca de conhecimentos com o autor. No meu caso essa era a principal dificuldade, interagir com o texto, apesar disso era um mundo novo, me encantava ao ler livros que ela levava pra sala.
Estava alfabetizado, nesse sentido, Naspolini (2010) questiona “O que é ser alfabetizado?” O que segundo Landsmann (1990) existem três concepções para definir o que é uma pessoa alfabetizada. A primeira concepção refere-se ao fato do aluno desempenhar um conjunto de atividades associadas ao uso prático, à segunda é quando o aluno vê na utilização da escrita também uma aquisição do poder político, econômico e mental, terceira é entender que o essencial para ser alfabetizado é adquirir formas de expressão contidas nos livros. Nesse sentido, ser analfabeto é aquele que se adapta ao dia-a-dia, e se expressa obtendo assim status, informações, conhecimento.
Nessa mesma direção, o ato de saber ler e escrever me faz sair da “escuridão”, vindo de uma família pobre, e pais analfabetos, eu era orgulho da família, isso implica que a leitura é um fator social, capaz de mudar contextos. A leitura nos fornece um mundo de sensações diversas. Assim, o ato de ler transforma-se num ato de questionamento, assim, ao ler os textos eu sempre questionava, imprima neles a minha opinião, isso ficava evidente quando, a professora da 4ª série levava textos muito simples de serem lidos, eu queria algo mais desafiador, isso porque tinha hábito da leitura reflexiva, o que para FARACO (2012) “é necessário realizar sempre uma ação reflexiva sobre a própria linguagem, interagindo as práticas socioverbais e o pensar sobre elas”. Sei que o caminho para uma boa leitura reflexiva e uma boa formação docente não é fácil, porém estou no caminho certo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário